Texto: Eretuza Gurgel

gurgeleretuza@gmail.com

Revisão textual: Johann Freire

johannfreire@msn.com

 

Gostaria de falar de filosofia, não de uma área do saber marginalizada injustamente por ser interesse de pessoas excêntricas, mas do amor à sabedoria. Um amor que todos cultivamos e praticamos, de forma inconsciente, quando questionamos acerca da vida e do universo. Então, falemos da filosofia que ultrapassa os limites de vários campos do saber, por ser a origem de todas as áreas do conhecimento.

No Ocidente, seus primórdios remontam ao século VI a. C., na Grécia Antiga. Seu desenvolvimento beneficiará diversas áreas do saber, como a lógica, a linguagem, a arte, a política, a religião, o sistema de pensamento e a ciência. Assim, como mãe de todos os campos do saber humano, “as decisões éticas tomadas em todas as profissões têm dimensões morais que são influenciadas pelas ideias dos grandes pensadores da filosofia” (p. 17), e desconhecer isso pode nos prejudicar.

O Mundo Antigo registrou as bases do pensamento oriental e ocidental no período clássico da filosofia, compreendido entre 700 a. C. até 250 a. C. Essa etapa ficou marcada pela contribuição de pensadores como Tales de Mileto — considerado o primeiro filósofo —, Pitágoras, Confúcio, Sidarta Gautama, Sócrates, Platão, Aristóteles e Zenão de Cítio. Os ensinamentos desses filósofos contribuíram para a construção de ideias transcendentais sobre temas como o universo, a sabedoria, a paz, o conhecimento, a vida, a existência, a verdade e a felicidade.

Os anos compreendidos entre 250 a 1500 são o período concernente ao Mundo Medieval. Durante essa época, há um protagonismo da religiosidade e de pensadores como Santo Agostinho, Santo Anselmo e Santo Tomás de Aquino. É um período de profundo trabalho intelectual para o entendimento da dimensão espiritual e da fé em Deus na vida do homem. Portanto, o Teocentrismo tem um papel fundamental na compreensão do pensamento dessa época.

A Renascença e a Idade da Razão (1500 – 1750) apresentam ideias que contrapõem o pensamento teocêntrico da Idade Média, por meio do antropocentrismo, ou seja, o homem e o seu racionalismo passam a ser fundamentais nos ideais dessa época de muita produção intelectual, principalmente no que concerne à cultura e à ciência. O racionalismo ganha destaque e a religião passa a ter menos importância na vida do homem. Outra mudança de paradigmas dessa época foi a troca da concepção Geocêntrica pela Heliocêntrica. Destacam-se pensadores como Maquiavel, Francis Bacon, Thomas Hobbes, René Descartes, Blaise Pascal, Espinosa, John Locke, Leibniz e George Berkeley.

Entre os anos 1750 a 1900, ocorreu a Era da Revolução. Nesse período, podemos destacar os pensadores Diderot, Voltaire, David Hume, Jean-Jacques Rousseau, Kant, Schlegel, Hegel, Schopenhauer, Kierkegaard, Karl Marx, Peirce, Darwin, John Stuart Mill e William James. Todos contribuíram para o desenvolvimento do pensamento e da filosofia, sobretudo no que concerne à ciência, liberdade, política, sociedade, realidade, conhecimento, economia e comércio.

O Mundo Moderno compreende o período de 1900 a 1950. Nessa época, há um destaque para Nietzsche, que afirmou que “o homem é algo a ser superado” (p.214). Outro grande pensador do período foi Husserl, defensor de que “carecemos de uma ciência racional do homem e da comunidade humana” (p.225). Esse período também foi palco para grandes filósofos como Miguel de Unamuno, Russell, Max Scheler, Karl Jaspers, Ortega y Gasset, Wittgenstein, Heidegger, Rudolf Carnap, Popper, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus.

Desde 1950 até os dias atuais, podemos falar de Filosofia Contemporânea, mediante a qual é registrada uma nova forma de pensar como reflexo do avanço da ciência, da tecnologia e da comunicação. Nessa época, há uma abordagem filosófica mais prática e aproximativa. A linguagem adquire protagonismo e grandes pensadores como Roland Barthes, Richard Wollheim, Michel Foucault, Noam Chomsky, Jürgen Habermas, Jacques Derrida e Richard Rorty se destacam por sua contribuição intelectual e crítica no cenário atual.

Em virtude disso, ter acesso a esse conteúdo pode nos ajudar na construção do nosso pensamento crítico e da nossa autonomia pessoal, intelectual e profissional. Ademais, a filosofia ou o amor à sabedoria se ocupa justamente dos questionamentos que são fundamentais para o exercício do senso crítico e para a construção do saber. Sendo assim, a falta de amor ao conhecimento pode nos prejudicar em nossa formação humana e profissional.

A importância da leitura de O Livro da Filosofia provém da necessidade de uma formação filosófica, que todos deveríamos ter. A obra pertence ao gênero enciclopédico, cujo produto textual é fruto da colaboração de vários autores, dentre os quais figuram Will Buckingham, Douglas Burnham, Clive Hill, Peter J. King, John Marenbon, bem como Marcus Weeks.

Foi publicada pela DK Penguin Random House, sob o título de The Philosophy Book, no ano de 2011, e desde então tem sido traduzida para vários idiomas. Seus principais autores são professores universitários, escritores, filósofos e grandes intelectuais ligados a alguma instituição britânica. Todos são autoridades nos temas que abordam nesta obra.

O livro é uma introdução sucinta, porém completa, à história da filosofia. Está escrito por meio de uma linguagem simples e acessível, que faz uso de elementos verbais e não-verbais. Nele são abordados os grandes temas e pensadores, de todos os períodos da história do desenvolvimento dos estudos filosóficos, desde os seus primórdios até o período contemporâneo.

Sua leitura pode ser realizada de forma lúdica e reflexiva, uma vez que, por meio de um estilo de escrita simples e ameno, conhecemos as grandes ideias e pensadores da filosofia de todos os tempos. Além disso, tomamos conhecimento de como o pensamento filosófico foi desenvolvido, quais são os principais pensadores que influenciaram na formação do pensamento contemporâneo; e os seus legados para a humanidade e para a construção do nosso conhecimento.

Um dos grandes motivos que me instigaram à leitura deste livro foi o meu amor à filosofia, além da consciência de sua contribuição para todas as áreas do saber e para a compreensão do mundo atual. Ademais, o conteúdo verbal e visual da obra também cativou a minha atenção, uma vez que é interessante ver como ideias tão complexas pedem ser abordadas de forma simples, objetiva e atrativa aos olhos do leitor.

Ao longo da obra, são destacadas algumas citações dos filósofos mais relevantes de cada época. Como amante da linguagem, sou induzida a finalizar com uma citação de Wittgenstein, que afirmou o seguinte: “os limites da minha linguagem significam os limites do mundo” (p. 246). Então, fica o convite à leitura de O Livro da Filosofia, à ampliação da nossa linguagem, do nosso pensamento crítico, do nosso universo e do nosso amor ao conhecimento.